Desde maio de 2012, quando viajei para Nova York pela primeira vez, digo que meu maior sonho é morar lá. Acredito que a maioria das pessoas que vão para lá visitem a cidade sinta isso: é tipo uma identificação imediata, vontade de participar da rotina apressada, imaginar como é viver com os barulhos dos carros ecoando entre os arranha-céus, se perguntar em quanto tempo as coisas que fizeram com que você se apaixonasse por Nova York se tornarão as coisas que te farão querer deixá-la.
Viajei para a cidade mais duas vezes e, em uma delas, quase não voltei (essa história está no ebook, já baixou? ;)). Nunca realizei o sonho de morar em Nova York e, mesmo que repita para mim mesma que ainda nem tenho 30 anos e algum dia ele pode ser realidade, sinto que nunca será. Talvez eu passe o resto da vida procurando desculpas para ficar uma semana, duas, um mês em Nova York, e acalmar esse coração que se apaixona por lugares.
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Por outro lado, morar na Itália nunca foi o meu sonho. Eu via somente como uma maneira de conseguir a dupla cidadania e, de quebra, passar um tempo no exterior.
Faltando poucos dias para a minha viagem para lá, percebi que não tinha a menor ideia de como Milão era; ao contrário de tantas outras cidades do mundo, eu não tinha referência nenhuma, nem mesmo para imaginá-la. Não fazia ideia do que iria encontrar.
Sabendo que passaria ao menos três meses numa cidadezinha na Itália, resolvi aproveitar essa oportunidade para desacelerar, depois de quase uma década de São Paulo.
O irônico é que esse dolce far niente é o contrário da minha cidade dos sonhos: queria viver uma vida mais simples, andar de bicicleta, chamar pelo nome as pessoas que eu só conhecia do bar, caminhar sem rumo, reclamar do tédio, passar muito tempo sentada num banco olhando para o nada.
Pelos meus amigos que moram em Nova York contam, acredito que seja possível viver assim lá também. Mas, hoje, quando penso em morar em Nova York, o sonho se distancia da vida que eu me vejo vivendo.
Sinto o frio na barriga ao lembrar do que passei lá, e rapidamente esses pensamentos criam cenas de uma vida que não vivi e que me despertam uma curiosidade que não sossega.
Mas, agora, quando penso em morar no exterior, a visão da vida na Itália me parece muito mais palpável, mesmo com o dinheiro contado, com as dificuldades em ser imigrante, com a barreira do idioma; problemas que teria também nos EUA e, sinceramente, em qualquer outro lugar.
Talvez porque já morei na Itália e gostei mais do que esperava. As dores no joelho depois de andar o dia todo passam, mas lembro vividamente de como me senti ao subir 500 degraus até o topo da cúpula de Brunelleschi em Florença. A vergonha de não saber falar o idioma e a frustração que diz que nunca conseguirei são substituídas pelo orgulho em descobrir que consigo, sim, aprender uma coisa nova. A mão queimando ao enfrentar o vento gelado pode ser esquentada novamente, mas o por do sol que vi na estrada no dia que saí de bicicleta em direção a lugar nenhum nunca mais vai se repetir.
Meu coração ainda bate mais devagar ao pensar em todo o lifestyle novaiorquino ao qual eu sinto que me adequaria tão rapidamente. Mas bate muito mais confortável ao pensar nos buongiorno que direi para meus vizinhos, no Aperol Spritz que tomarei no fim da tarde e nos longos passeios de bicicleta de fim de semana.
Vai ver eu realmente tenha passado da idade de Nova York e, hoje, aquela vibração toda não me atraia mais tanto quanto o conforto e a tranquilidade que encontrei na Itália. Ainda tenho essa coisa de cidade grande dentro de mim, mas, atualmente, o lado mais tranquilo tem dominado.
Cá entre nós, acho que morar em Nova York é algo que eu deveria fazer em algum momento, só para tirar a dúvida. Assim como os outros sonhos de cidades para passar um tempo, como San Francisco, Barcelona, Buenos Aires, Maceió e até um período de detox de Google e do Facebook em Pequim.
Como uma amiga me disse, passar um tempo fora do país faz com que você não tenha mais um lar, mas vários. E, vai ver, é isso mesmo: a gente está sempre com os pés em um lugar, o coração em outro e os olhos num terceiro.