Desde o primeiro post falando sobre coronavírus na Itália, muita coisa aconteceu. E foi em pouco tempo, visto que esse post foi ao ar há duas semanas!
Não fiz nenhum update por aqui porque o cenário muda muito rapidamente e não faria sentido; não é a proposta do blog cobrir notícias quentes e existem profissionais que estão focados somente nisso, com fontes oficiais e tudo o mais. O post de hoje é escrito com base nas informações divulgadas por esses jornalistas.
No último domingo, a região da Lombardia e as províncias de Padova, Veneza e Treviso viraram zona rossa, o que significa que a entrada e saída de pessoas estava proibida. Na segunda-feira à noite, foi anunciado que a medida seria estendida para toda a Itália a partir da terça.
Itália fechada: o que significa
De acordo com o decreto que foi publicado hoje no Diário Oficial italiano, fica proibida a reunião de pessoas em lugares públicos ou abertos ao público em todo o território. O decreto também suspende atividades esportivas de todo tipo, seja em locais públicos ou privados. É apenas consentido o treino para atletas, observando as medidas de precaução do vírus.
O texto pode ser lido na íntegra, em italiano, neste link.
No pronunciamento oficial, o presidente do país, Giuseppe Conte, mencionou ainda outras medidas: se deve evitar a movimentação por todo o território, exceto por motivos específicos, como trabalho ou saúde. Em todo caso, é necessário apresentar uma autodeclaração e exercitar o bom senso: nos exemplos dados pelo vice-ministro da Saúde, não se deve, por exemplo, viajar para encontrar a namorada; no entanto, viajar para cuidar da mãe idosa que precisa de assistência é um motivo válido.
No que diz respeito à vida social, bares e restaurantes em todo o país devem fechar às 18h, porque é à noite que as pessoas se reúnem e todas as medidas têm a intenção de evitar aglomerações e controlar a movimentação, de modo a segurar o avanço do vírus. Além disso, faculdades e escolas continuam fechadas até o dia 3 de abril, que é o prazo deste decreto.
E, por fim, uma medida avaliada pela Lombardia e pelo Veneto e divulgada no fim desta tarde, mas ainda não oficial, é fechar todos os negócios não-essenciais, ou seja, manter apenas farmácias e comércios de alimentos abertos, além de suspender também o transporte público. Essas medidas, no entanto, ainda não foram aprovadas pelo governo.
Itália fechada: o que NÃO significa
Até o momento, não é proibido aos italianos sair de casa, mas, sim, recomendado. E fortemente recomendado: no pronunciamento oficial, Conte pede que todos fiquem em casa, a não ser que seja realmente necessário sair.
Há até uma campanha na internet, endossada pelo presidente, para incentivar que apenas saídas extremamente necessárias, como ir ao mercado, sejam feitas. Basta procurar por #iorestoacasa (“eu fico em casa” em italiano) para ver que as pessoas estão finalmente começando a levar a sério a ameaça.
“Devemos todos renunciar a algo pelo bem da Itália, e devemos fazer imediatamente”, disse Conte em seu discurso. As medidas anunciadas nesta semana se assemelham, até certo ponto, às adotadas pela China – e que têm surtido efeito no país: em Wuhan, onde a epidemia teve início, foram registrados apenas 36 novos casos, e 11 dos 14 centros especialmente criados para tratar os casos de coronavírus não são mais necessários. Em todo o país, o total de casos continua caindo.
Dados do coronavírus
O coronavírus, embora não seja tão letal – apesar de, pessoalmente, eu considerar isso um pouco subjetivo – , é altamente contagioso. Prova disso é que, na segunda-feira passada, a Itália contabilizou 2 mil casos confirmados; ontem, uma semana depois, o dia fechou em quase 8 mil (excluindo falecidos e curados; com esses casos adicionados, o total chega a 9,1 mil).
Olhando o panorama mundial, os números são altos, mas também me deu um alívio olhá-los com uma perspectiva mais positiva: 116.358 foram confirmados até agora. Desses pacientes, 64.391 foram curados. Dos 51.967 restantes, os que faleceram foram 4.090.
A sensação que tenho nesta semana é que, com os novos decretos, as pessoas estão levando mais a sério as medidas e realmente fazendo sua parte, se esforçando um pouco mais pelo bem de todos. De forma a motivar os clientes a ficarem em casa e também motivados pela ausência deles, já que, para negócios pequenos, simplesmente acender as luzes tem um custo alto, muitos comércios fecharam as portas temporariamente entre ontem e hoje.
É perceptível que as ruas estão mais vazias e se vê muito mais pessoas usando máscaras e aproveitando o álcool gel disponível no transporte público e nos negócios que continuam abertos. Parece existir um consenso em respeitar todas as recomendações de higiene básica, como lavar as mãos e cobrir a boca ao tossir, e as brincadeiras que antes subestimavam a força da epidemia praticamente cessaram.
Não sei dizer se este gigante acordou, mas, com certeza, para o bem de todos, decidiu ficar em casa.
LEIA OS OUTROS POSTS DO BLOG SOBRE CORONAVÍRUS:
- Coronavírus na Itália: como está por aqui (até agora)
- O primeiro dia em “quarentena” na Itália
- Desmascarando 5 fake news de coronavirus na Itália
- 100 ideias do que fazer durante a quarentena
- Coronavírus x sua viagem marcada: o que fazer para salvar as férias
- Contos da Quarentena: ‘moro em Wuhan, escapei do vírus na Itália e estou isolada na França’
- Até quando vai a quarentena na Itália?