Sei que estou praticamente bombardeando meus leitores com histórias sobre mudar para a Itália nos últimos posts, mas tenho uma justificativa que acho boa: fiquei quase dois meses num Airbnb até achar nossa casa, e eu não me sentia confortável para escrever lá e, bom, eu não tinha muito o que contar, se não tinha achado um apartamento ainda!
Pois bem, o post de hoje é a história do primeiro apartamento que alugamos na Itália… E de como o proprietário mudou de ideia cinco dias depois de assinar o contrato.
Por isso o Horror Story do título.
Bom, eu encontrei esse apartamento na minha primeira semana de buscas. Aliás, foi o primeiro apartamento que vi na Itália, e eu nem sabia direito como seria a visita, o que dizer, não imaginava que o proprietário estaria junto do corretor, nada do tipo. Foi só um apartamento que eu fui ver.
Eu não esperava que ele seria ótimo. O preço do aluguel era até abaixo do nosso orçamento, tinha varanda, dois quartos, todo mobiliado e recentemente reformado. Até garagem ele tinha e ficava a uns 200 metros do Tram, que é o metrô de superfície bonde aqui da cidade. De bicicleta, daria uma meia hora até o Centro; de Tram, 15 minutos.
Depois da visita e de mandar para o meu marido um vídeo mostrando o apartamento (ele ainda não estava na Itália), agradeci a imobiliária pela visita por WhatsApp e disse que estava interessada. Ela prontamente pediu que eu enviasse os documentos para o aluguel e me faltava a maldita da busta paga, que é o holerite italiano.
Eu ainda não trabalhava na Itália – tinha chegado há, sei lá, quatro dias! – mas expliquei que trabalhava remotamente para o Brasil, podia comprovar minha renda e o proprietário já tinha concordado quando falamos disso durante a visita.
Então, ela agendou para dali a um ou dois dias um horário para ir à imobiliária assinar o contrato.
Quando chegou o dia, me encontrei lá com o proprietário, lemos juntos o contrato, assinamos tudo, saquei o primeiro mês de aluguel para dar em dinheiro para ele e marcamos de entregar a chave na outra semana, porque ainda tinha alguns ajustes para fazer no apartamento. Junto com a chave, eu também daria o caução, que ele muito simpaticamente reduziu de três para dois meses, e pagaria a taxa da imobiliária, que era o valor de um outro mês de aluguel.
E pronto. Foi isso.
Em menos de uma semana, eu tinha conseguido alugar uma casa na Itália.
O timing era perfeito: eu pegaria a chave numa sexta-feira, antes do meu marido chegar na segunda; faria a “mudança” do Airbnb para lá no fim de semana e ele poderia já trazer a cachorra dele no mesmo voo. De quebra, quem sabe até conseguiria um reembolso do Airbnb pelos dias que não ficaria lá!
Quando tudo deu errado
No começo da semana seguinte, quando eu iria pegar a chave, a imobiliária me chamou para conversar porque o proprietário queria alguns “esclarecimentos”. Na hora, me bateu uma insegurança, uma bad vibe esquisita.
Mas já tinha assinado o contrato e pagado o primeiro mês de aluguel, então o que poderia dar de errado?
Cheguei lá antes do proprietário, então pude conversar com a corretora. Ela me contou que ele estava em dúvida sobre como trabalhávamos e eu expliquei melhor para ela – lembrando, meu italiano ainda estava bem embolado nessa primeira semana no país, então me senti mais segura garantindo que ela entendeu e poderia explicar para ele. E foi o que combinamos: depois de entender, ela garantiu que não haveria problemas e, se houvesse, explicaria para ele.
Alguns minutos depois, ele chegou, me cumprimentou normalmente e se sentou. Então, começou a guiar a conversa: disse que não estava se sentindo seguro e, portanto, queria desfazer o contrato. Me devolveu o dinheiro do primeiro aluguel, incluiu no recibo uma nota de que estava desfazendo o contrato e fim de caso.
Veja bem: até poucos minutos antes disso, o problema era só um esclarecimento simples. Agora, o problema era que eu não tinha mais onde morar!!
Perguntei o motivo da insegurança e ele explicou que, na Itália, o normal é mostrar três holerites para comprovar renda, e eu não tinha nenhum documento italiano que pudesse mostrar.
Argumentei que trabalhava remotamente e já tinha mostrado o extrato do banco e as notas fiscais dos últimos meses para demonstrar a renda mensal. Até ofereci alguns meses de aluguel antecipadamente, mas de nada adiantou: ele insistiu que na Itália é assim que se faz e, se eu não podia fazer, ele não fecharia com a gente.
Procurei ajuda com a corretora, mas ela não ajudou nada, só ficou olhando para ele com cara de choque, de “não acredito que você está fazendo isso comigo” – pelo que entendi, eles já se conheciam antes. Por fim, apelei para o contrato assinado, perguntando se ele podia fazer isso. Ela falou que podia, porque esse contrato era “mais um acordo que um contrato mesmo” (?????).
Peguei meu dinheiro de volta, apertei a mão do proprietário em vez de enfiar a minha na cara dele, agradeci a imobiliária pela ajuda e fui chorar na parada do Tram. Chorei tanto que chorei de escorrer ranho do nariz e um rapaz que também estava esperando veio me consolar.
O que eu poderia ter feito
Você achou estranho o lance do contrato assinado não ter valido nada? Eu também achei, e, sinceramente, acho até hoje. Conversando com conhecidos italianos, eles também olharam com cara de incredulidade quando contei a história toda, emendando um “ele não poderia ter feito isso se o contrato estava assinado.”
Tenho bastante certeza que fui sacaneada mesmo, e que minha falta de conhecimento, tanto do idioma quanto da burocracia da situação, foram os motivos pelos quais eu não consegui brigar mais pelo apartamento.
Olhando hoje, cometi erros muito básicos que, sinceramente, nem sei como permiti que ocorressem. E vou contar para que você não cometa:
O primeiro foi não ter uma cópia do contrato assinado. Assim que assinamos, a imobiliária enviou por email uma cópia do contrato… Mas sem as assinaturas. Também não fiquei com nenhuma cópia física, e até pedi, mas ela disse que o que eu precisaria, que eram as cláusulas, foi enviado por email.
Esse acontecimento por si só foi bem estranho, e não entendi o motivo até agora para eles fazerem desta forma. Mas a imobiliária tem mais de duas décadas de mercado e tudo pareceu bastante idôneo; talvez eles façam isso como forma de “proteger” o proprietário e eu tenha dado azar mesmo.
O segundo erro foi não ter brigado mais. Fui pega de surpresa e nem consegui falar direito; imagine, então, brigar mesmo pelo cumprimento do contrato, em vez de apenas me defender.
O terceiro, que eu provavelmente não faria mesmo, seria procurar um advogado, porque teria pelo menos entendido o motivo pelo qual o cancelamento do contrato foi aceito. Mas, sem a cópia assinada, acho que não tinha muitas chances mesmo.
O lado bom
No dia seguinte, claro, voltei à estaca zero de busca pelo apartamento. Meu marido chegou alguns dias depois, sem a cachorra, e começamos a procurar juntos.
Acho que vi, ao todo, uns 20 apartamentos, a ponto de ter certeza que, se existia um bilocale livre nesta cidade, o proprietário dele sabia da minha existência, fosse por email, fosse pessoalmente.
Quando você está no meio da lama, é difícil acreditar que as coisas que acontecem são as que têm que acontecer, ou que algo melhor nos espera mais adiante. Mas foi exatamente o que aconteceu com a gente: um mês e meio depois de chegar na Itália, conseguimos alugar um apartamento ainda melhor que esse, mais perto do Tram e do Centro, por apenas 70 euros a mais e com uma proprietária que não é nem gente, é um anjo. <3
Então, meu conselho para quem está procurando apartamento na Itália é: venha preparado – inclusive financeiramente – para morar por um bom tempo em Airbnb, hotel e o escambau, para levar vários “nãos”, quase conseguir alugar algumas vezes… Mas mantenha em mente que você precisa só de UM “sim”.
E de ter uma cópia do contrato assinado.