Depois de dois anos e meio morando em Londres e dizendo que algum dia eu iria a Paris, é ali do lado, é facinho de ir, um dia eu vou, eu realmente entrei no Eurostar e fui a Paris.
Ao contrário de, imagino, todo mundo que visita a cidade-luz, eu não tinha grandes expectativas, nem era um sonho conhecê-la. Mas a promoção do hotel + trem para lá estava bem boa (para os padrões parisienses; paguei cerca de 300 libras no pacote) e achei que era hora de visitar. A única coisa que planejei foi uma visita ao Museu d’Orsay e uma corrida de 10km; de resto, deixei que a cidade me surpreendesse.
E, como resultado, minha opinião sobre Paris é nula. Em outras palavras, não vou dizer que não gostei, mas também não gostei a ponto de dar aquele frio na barriga quando lembro da viagem.
Paris é cara? Sim, muito
A primeira coisa que me surpreendeu foram os preços. Veja bem, eu moro em Londres, uma das cidades mais caras do mundo, e achei Paris assustadora de tão cara! Levei quase 100 euros para usar por dia e tive que ficar muito atenta aos meus gastos para ter certeza que iam durar todos os quatro dias.
Ainda assim, não sei dizer onde foi parar o meu dinheiro.
O gasto mais frequente foi com bilhete de transporte público: cada viagem custou 2,10 €, independente do tipo de transporte. É um valor dentro do normal para transporte público na Europa, mas que pode acabar comendo uma boa fatia do seu orçamento sem você perceber (aconteceu comigo).
O cappuccino mais caro que comprei custou 5 € – pudera, perto da Torre Eiffel. Eu precisava usar o banheiro e por isso tive que concordar com um preço injustificável para um copo de café com leite espumado, mas minha vontade foi de, à francesa, queimar um carro.
Praticamente todas as minhas refeições vieram da prateleira do supermercado, e eu sei exatamente o que você está pensando: “foi pra Paris para comer comida do Carrefour???” Eu também me questionei isso, mas os restaurantes perto do meu hotel (Gare Del’Est/Republique) cobravam quase 20 € por um prato de macarrão! Preferi comer na humildade, batendo perna enquanto comia minha baguete na rua no almoço ou enquanto descansava o pé no quarto do hotel no jantar.
Além disso, cá entre nós, o Carrefour é francês.
A única vez que comi num restaurante foi no último dia, quando tinha algum dinheiro sobrando e decidi treat myself no Relais l’Entrecote. A conta foi caríssima para uma pessoa, mas outro dia conto o que achei.
Todos os ingressos são pagos
Ainda no tópico de que achei tudo muito caro em Paris, também fiquei surpresa como tudo é pago. Isso provavelmente vem do meu costume com Londres, em que todos os museus são gratuitos para visitar, então também é mais culpa minha do que de Paris.
Mas me fez lembrar de quando fui a Florença pela primeira vez e fiquei revoltada com o preço que precisaria desembolsar para visitar as obras de arte mais famosas do Renascimento italiano. Ou seja, não basta desembolsar todo aquele dinheiro para simplesmente estar na cidade, você também vai ter que investir uma boa quantia em ingressos para aproveitá-la.
Comprando nas bilheterias oficiais, os preços das atrações mais famosas de Paris são:
- Torre Eiffel: 28,30 €
- Museu do Louvre: 17 €
- Museu d’Orsay: 16 €
- Arco do Triunfo: 13 €
- Torre Montparnasse: 18 €
- Domo da Sacre Coeur: 8 € (site não-oficial)
Ironicamente, não consegui visitar o Centro Pompidou, que tem ingressos gratuitos, porque não me atentei ao fato de que ele fica fechado às terças-feiras, e era o dia que eu pretendia visitá-lo – planejamento de milhões.
Mas, voltando aos preços, podem não ser tão excessivos para quem mora na Europa ou no Reino Unido: todos os que listei acima ficam em pouco mais de 80 €, o que não é uma quantia tão absurda para uma viagem especial.
No entanto, não era o caso com a minha viagem, e optei por conhecer a cidade gratuita em vez da cidade por trás das catracas. Em outras palavras, não me senti particularmente interessada em visitar o Louvre ou subir no alto da Torre Eiffel; até considerei a Torre Montparnasse (de onde se vê a Torre Eiffel), mas o dia estava nublado e também achei melhor deixar para a próxima.
Essa ideia de “deixar para a próxima” também é algo que nem todo mundo pode fazer, já que uma viagem pela Europa, para quem mora no Brasil, custa muito dinheiro. Ainda assim, quis dividir esse tópico porque existe aquela pressão de tem que ver tal coisa sempre que você vai viajar e tem que ver nada; faça a viagem que você sonhou, compre os ingressos que você preferir e aproveite como quiser, porque ninguém tem nada com isso.
Quando falei que iria para Paris pela primeira vez e não iria ao Louvre, uma amiga falou que eu iria me arrepender. Mas eu sabia que ia ter poucos dias e o Louvre, imenso como é, iria exigir muito tempo. Respondi “mas não sei como é e não sei o que vou perder”. Ignorância é uma benção. Não fui e não me arrependo.
Os golpes de Paris
Todo mundo fala sobre os golpes nas ruas de Paris: o do abaixo-assinado, o da pulseirinha e outros que agora não me lembro. Então, a dica mais compartilhada sobre a cidade provavelmente é cuidado com o celular.
Eu sempre acho que, sendo brasileiros, a gente – infelizmente – tem um cuidado a mais com nossos pertences na rua. Por exemplo, nunca vi um brasileiro no exterior esperando para atravessar a rua enquanto mexe no celular. Mas, em Paris, eu me senti tão insegura em alguns lugares em relação a furtos e golpes que, ao lembrar da visita, a sensação que me vem é essa de alerta.
Isso aconteceu especialmente em duas regiões: na Sacre Coeur e na Torre Eiffel.
Na Sacre Coeur, vi um grupo de homens com pulseirinhas abordar de forma meio bruta dois turistas, até que um deles levantou a voz, saiu andando e eles os deixaram ir embora. Eu mesma fui abordada por uma pessoa com uma prancheta e, depois de dizer que não iria assinar nada, escolhi mudar minha rota.
Na Torre Eiffel, os grupos de golpistas me pareceram ainda mais numerosos, tanto aos pés da torre, no Campo de Marte, como no Trocadéro, onde fui à noite para vê-la acesa. Ou seja, não me senti segura nesses locais e quis ir embora bem rápido.
Essa sensação de insegurança foi, de longe, o que menos gostei em Paris. Ainda que seja algo que a gente sente em todas as grandes cidades e especialmente nos pontos turísticos, infelizmente senti que roubou um grande pedaço do charme parisiense.
Já pensou em visitar o Mercado de Pulgas de Paris?
Se não pensou, não precisa começar.
Não é um ponto turístico, fica longe do centro e acho que a maioria das pessoas não visitaria antes da segunda ou terceira visita à cidade. No entanto, há anos eu tenho marcado no meu Google Maps como “quero visitar”, depois de assistir o vídeo abaixo:
No entanto, ao chegar lá, achei meio decepcionante. A região é cheia de vários mercados, e já fica o aviso de que não é uma região que tem aquele charme parisiense; pelo contrário, parece com qualquer mercado de rua da Europa. Logo que você chega, só vê as barracas de roupas falsificadas. As antiguidades ficam mais para dentro, e você pode chegar até elas marcando a Rua des Rosiers no seu mapa.
Lá, visitei dois mercados: o Marché Dauphine, que é uma galeria com setores de música, roupas e decoração, e o Marché Vernaison, o mais antigo, com mais 300 lojas de quinquilharias com uma coisa ou outra que até chama a atenção, mas não me encantaram o suficiente para levar para casa. E eu amo uma quinquilharia! Até pode ser um passeio curioso, mas eu esperava que fosse mais curioso.
Em outras palavras, passei umas duas horas perambulando pelos corredores dos mercados com a expectativa de estar descobrindo algo muito secreto e exclusivo, e voltar com uma dica imperdível de Paris para compartilhar, mas não foi o que aconteceu. No entanto, vi muitos parisienses por ali, grupos de amigos e famílias, como se fosse de fato um passeio de domingo, mas quase nenhum turista. Ou seja, é um lugar frequentado por quem realmente mora na cidade, o que traz o aprendizado de que nem tudo que acontece no dia a dia é interessante para quem está só de passagem.
Paris, confesso, não foi uma cidade que me encantou. Achei bonita, mas nada avassalador. Porém, voltei para casa com a sensação de que, se tivesse mais uma semana, um mês, um ano por lá, encontraria sempre algo diferente para fazer. Tomara que não demore dois anos e meio para visitá-la de novo.
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