Barcelona é a cidade que eu mais visitei na vida; acho que fui até mais vezes que Veneza, e olha que eu morava ali do lado. Nos últimos anos, eu tenho ido anualmente, meio que sem querer. Tropeço na rua e, quando vejo, estou em Barcelona.
No ano passado, o plano inicial era ir para o Lake District aqui na Inglaterra. Aproveitando um feriado e dando um migué para ficar um dia a mais, ficaríamos quatro dias na região. Reservei o hotel no Airbnb (sempre com cancelamento gratuito), calculamos o preço dos trens até lá, e, apesar de ser uma viagem cara, seria possível fazer.
Não deu nem uma semana e lemos a notícia de que, em 2024, o verão no Reino Unido teria mais de 50 dias de chuva.
Cancelamos tudo.
Uma ideia saltitou pela minha cabeça: quanto será que está ir para Barcelona no mesmo fim de semana?
Corta para: cinco dias em Barcelona, com vôo e hotel no Bairro Gótico, ficaria o mesmo preço.
E assim fui para Barcelona pela, sei lá, sétima vez.
Como você pode imaginar, na sétima vez em qualquer cidade, não existe lá muita novidade… Mas, em Barcelona, sempre tem algo para ver – nem que seja ver de novo. Posso passar o dia inteiro falando sobre como ela é linda, sedutora, boêmia, colorida; só não gosta de Barcelona quem nunca foi (e minha amiga Patrícia).
Minhas vizinhas, que são bem mais situadas em Barcelona do que eu, deram a dica: “já foi no Museu da Arte Proibida?”
Não, contem mais.
“É um museu que agrega arte censurada no mundo todo.“
Ingressos comprados.
Visitando o Museu da Arte Proibida
O museu, cujo nome oficial é em catalão, Museu de l’Art Prohibit, abriu em 2023. Ele reúne mais de 200 obras que foram censuradas em todo o mundo, seja por razões políticas, religiosas ou sociais. Esculturas, pinturas, fotografias, instalações, peças audiovisuais… Tem de tudo, e cada uma acompanhada de uma descrição do contexto em que foi criada.
A visita dura cerca de uma hora, talvez um pouco mais, que é o tempo que demora para passar por todas as áreas da Casa Garriga Nogués, onde o museu fica localizado. No bairro do Eixample, é uma construção linda, com um domo (ou seria uma claraboia?) de vitrais e uma escadaria monumental, por onde a visita começa.
Eu não fiquei chocada com nenhuma das artes no contexto de como elas foram censuradas – sou uma pessoa sem religião e com um alinhamento político similar ao dos artistas expostos, mas esse definitivamente não é um museu que vai agradar todo mundo (aliás, a própria existência dele já é prova de que muita gente não gostou do que tem lá.)
Mas algumas obras mexeram mais comigo. A primeira, logo no primeiro corredor da visita, é um saco de pancadas no formato de um corpo feminino. Criado pela cazaquistanesa Zoya Falkova, essa obra se chama Evermust e dispensa explicações sobre o que significa.
A segunda é o curta-metragem Nation-Estate, da palestina Larissa Sansour, um sci-fi distópico que coloca toda a população palestina vivendo em um país dentro de um arranha-céu.
Há ainda obras de artistas consagrados, como Pablo Picasso, Andy Warhol, Banksy, Keith Harring, Francisco de Goya e Gustav Klimt. Ninguém é imune a censura.
As obras relacionadas a política são mais explícitas, com os líderes em posições pornográficas e muitas vezes humilhantes – e acredito que também haja algo a se pensar sobre isso, especialmente no contexto da homossexualidade.
As relacionadas a religião, especialmente ao catolicismo/cristianismo, são mais grotescas, até escatológicas. Quem for muito fã de religião não vai gostar, mas vale tirar um tempo para pensar sobre porquê algo te incomoda e questionar suas próprias ideias.
Visitar o Museu da Arte Proibida é um extra bem interessante de incluir na sua visita a Barcelona, especialmente se tiver um tempo livre depois de ver os principais pontos. E ele fica perto da Praça da Catalunha, fácil de chegar, então um break para passar uma horinha no ar condicionado em um dia de calor pode ser uma boa “desculpa” para a visita.
É um passeio que não vai agradar todo mundo, mas vai causar algum incômodo ou reflexão em todo mundo. E, só por isso, eu acho que vale a pena espremer quando estiver na cidade.
Serviço
Museu da Arte Proibida
- Endereço: Carrer de la Diputació, 250, Barcelona
- Horários: 10:00–19:00 (fechado às terças-feiras)
- Ingresso: 12€
- Site oficial
