Como visitar o Edifício Martinelli, em São Paulo

Depois de cerca de dois anos fechado para o público, o mirante do Edifício Martinelli, em São Paulo, foi reaberto em abril. De lá para cá, a procura foi tão alta que, agora, é possível visitá-lo todos os dias da semana, incluindo domingos e feriados, desde as 11 da manhã até as sete e meia da noite.

Ainda assim, não é fácil subir os 26 andares. A concorrência continua alta: é uma subida a cada hora e cada excursão leva apenas 15 pessoas. Por isso, logo ao chegar, é possível ver uma fila considerável de gente que esperará, no mínimo, duas horas.

Pelo menos tem a sombra das árvores da avenida São João, que começa nesse pedaço charmoso do centro de São Paulo. Além do Martinelli, é nesse trecho que fica o ângulo mais fotogênico do Banespão (ou Farol Santander, ou Edifício Altino Arantes), uma das entradas para o Vale do Anhangabaú e cafés charmosos como o Café Martinelli-Midi, que fica no próprio edifício, mas na rua Líbero Badaró, e a Casa Mathilde, conhecida pelos doces portugueses. A um quarteirão, fica o Mosteiro de São Bento, conhecido pelos pães deliciosos feitos lá mesmo e pelas missas de canto gregoriano.

Mas nem adianta querer bater perna enquanto espera: a fila é por ordem de chegada e guardar lugar é proibido. Portanto, leve um livro, um óculos de sol e uma Powerbank – porque só falta ficar duas horas sentado na muretinha e acabar sem bateria para tirar foto do alto dos 105 metros do Martinelli. E, claro, um tanto de paciência.

Cheguei pouco antes das 15h, sabendo que a distribuição de ingressos é meia hora antes da subida e que a subida ocorre a cada “hora e meia”; portanto, a próxima subida seria às 15h30, com ingressos distribuídos para quem estivesse ali às 15h. Mas já havia mais de 15 pessoas esperando e a fila se estendia para as 16h30. Por isso, acabei suspendendo o resto da minha tarde para aproveitar para ver a cidade cinzenta lá do alto nesse dia de céu azul, totalmente sem nuvens.

Dica esperta: no horário das 17h30, dependendo do dia, é possível ver o por do sol lá de cima. Já o das 19h30 dá uma visão panorâmica da cidade à noite.

Quando deu 15h30, já tinha gente o suficiente para lotar a sessão das 16h30 e uma boa quantidade também para a das 17h30. Ou seja, visitar o Edifício Martinelli não é para quem tem o tempo cronometrado em São Paulo.

Mas, pensando bem, de qualquer forma São Paulo não é uma cidade para quem tem o tempo cronometrado.

Visita guiada no Martinelli

Chegado o horário de pegar o ingresso, entramos no edifício, demos nossos nomes e, mais uma vez, aguardamos em fila até das 16h30. É tudo muito pontual: exatamente nesse horário, a guia se apresentou, anunciou que subiríamos em grupos de cinco pessoas e, de lá, começaríamos a visita guiada. Em cerca de 40 minutos, o grupo desceria também junto.

Agora, toda visita ao Martinelli é guiada; antes, era preciso dar alguma sorte para ouvir a sua história.

Imagino que você já tenha ouvido falar qualquer coisa, como que ele é assombrado ou que foi um cortiço nos anos 70. A segunda parte é verdade; a primeira é provável, considerando que ele foi o endereço de clínicas clandestinas de abortos, prostíbulos, tráfico de drogas, assassinatos e que, durante a revitalização que ocorreu entre 1975 e 79, foram tirados nove andares de lixo do fosso do elevador, incluindo ossadas humanas e corpos.

O Edifício Martinelli é fruto da ambição de Giuseppe Martinelli, um imigrante italiano que chegou ao Brasil no início do século e pretendia criar um prédio alto demais para a época, com uma mansão no alto dos 26 andares, de onde ele e sua família poderiam ter uma vista única da cidade – imagine como seria, já que o Martinelli foi o primeiro arranha-céu de São Paulo, concluído em 1934.

No entanto, o plano de Martinelli de viver no topo do edifício nunca se concretizou, pois ele foi à falência antes do fim da construção.

Como é o topo do Martinelli

A vista que o próprio Martinelli não teve todas as manhãs é, claro, muito diferente hoje. O prédio é cercado por outros, que acabam atrapalhando a visibilidade em alguns pontos – é uma pena que não dê, por exemplo, para ver o Teatro Municipal de lá de cima.

Dos mirantes, é possível ter um ângulo ainda mais fotogênico do Banespão, além de uma panorâmica do Vale do Anhangabaú, ver as torres da Catedral da Sé e, lá longe, dos prédios mais altos da Avenida Paulista.

Mas, após os dois anos de fechamento, a visita ficou muito mais restrita do que antes. Não apenas pelos grupos pequenos que sobem a cada hora, o que faz com que a permanência tenha um tempo controlado.

Agora, a área de visitação também é restrita, com grades, aos dois mirantes laterais; a parte central, onde fica a mansão, está fechada para visitação (a casa em si sempre foi fechada; agora, não se chega nem às varandas que ficam na frente).

Também há grandes próximas ao parapeito, de modo que é impossível chegar muito perto dele e ter uma vista tão boa como antes.

Antes do fechamento do Martinelli, em 2016: até dava para debruçar no parapeito, mas, por aqui, faltava coragem…
…e hoje: vista panorâmica para quem tem medo de altura

Além da guia, um bombeiro e um segurança acompanharam o grupo, que vai junto também de uma varanda para a outra.

Como eu tinha visitado o edifício antes do fechamento recente, minha expectativa era de ter um pouco mais de liberdade lá em cima e, por isso, foi um pouco frustrante.

Mas, para quem nunca foi, não acho que a experiência seja tão afetada. A vista das varandas que estão fechadas para visitação não é muito boa, de qualquer forma: só se vê o prédio em frente. Os parapeitos, desnivelados e com rachaduras, realmente precisam de uma reforma. Também dá uma maior sensação de segurança ter mais profissionais acompanhando o grupo. E, com menos gente transitando ali, não fica lotado.

De modo geral, senti que, agora, há uma preocupação maior tanto com o prédio e sua história como com os visitantes. Ou seja, ficou, sim, melhor!

O futuro do Martinelli

As visitas ao Martinelli devem mudar novamente em breve. O prédio está passando por uma licitação para ser controlado por alguma iniciativa privada e a expectativa é que o projeto selecionado seja anunciado no fim deste ano, com café, loja, restaurante e espaços culturais e de exposições. A referência, como você pode ter percebido por essa descrição, é o Farol Santander.

Então, é provável que ele fique mais um tempo fechado para reformas no ano que vem. E, se usarmos o Farol Santander como referência novamente, é possível que a próxima visita seja paga: para visitar o Altino Arantes, é preciso desembolsar R$ 20. O Martinelli, ao menos por enquanto, é de graça.

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Giovana Penatti

Giovana Penatti

Giovana mal pode esperar pela terça-feira à tarde na qual estará tomando um drink numa praia no Mar Mediterrâneo rindo muito de tudo isso. Enquanto isso, escreve sobre viagem e morar no exterior por aqui!