Vira e mexe, recebo sugestões de posts sobre como fazer para ir morar fora do país em outros países, além da Itália – e além da cidadania italiana. Então, procurei alguns amigos que também moram no exterior para contar sobre suas jornadas: o que os motivou, por que foram para onde estão e como fizeram isso!
Essa nova uma sessão no blog, ironicamente chamada de Jovem Larga Tudo, traz os depoimentos dessas pessoas para mostrar que existem milhares de maneiras de realizar o sonho de morar fora. E que ele é, sim, possível!
Espero que seja inspirador! 🙂
Se teve um ano em que estive perdida, foi 2014. Não tinha um canto meu, passei mais de um ano entre a casa dos meus pais, a escola de idiomas da minha irmã e sofás de amigos em diferentes cidades. Me assustava não ter nada muito planejado para o ano seguinte: só estava esperando minha colação de grau na faculdade pra poder ir pra algum lugar, mas não fazia ideia de qual seria.
Em novembro, viajei para a Cidade do México, onde tinha morado anteriormente durante um intercâmbio universitário. A cidade, que já tinha me atraído antes, me chamou de novo. Durante a viagem, ficava pensando em como seria finalmente ser “adulta” na Cidade do México: alugar um lugar pra mim, ter um cartão do Costco… (sim, aos vinte e poucos eu achava que um cartão do Costco me faria sentir adulta. Estou prestes a fazer 30 e descobri que nem a declaração do imposto de renda me faz sentir muito adulta).
Voltei pro Brasil decidida: é pra Cidade do México que eu vou.
Na época, trabalhava em uma agência de marketing digital atendendo clientes da América Latina e fazia home office. Marquei uma reunião com os chefes pra contar da decisão: a proposta era continuar fazendo meu trampo, porém a uma distância um pouco maior.
Já estava preparada para o “thanks but no thanks”. Não estava tão preparada para a proposta que realmente escutei esse dia: “E se você for pra lá, contratar um pessoal pra te ajudar e, assim, começamos a ter um braço da agência no México?”
CREDO, QUE DELÍCIA! Obviamente aceitei, mas c̶a̶g̶a̶n̶d̶o̶ morrendo de medo da responsabilidade: o panorama já não era só o meu canto e meu cartão do Costco.
Tive quatro meses para me programar para a mudança: comprar a passagem, economizar grana, entrar em contato com todos os amigos pra ver quem teria um quarto ou sofá livre pra me hospedar alguns dias ou meses até achar algo mais permanente e me despedir dos meus deste lado do Equador.
A mudança
Não achei que a despedida seria tão difícil. Sempre me considerei um espírito livre e morar “longe” nunca tinha sido drama. Acho que o fato de ter convivido os últimos dois anos com meu sobrinho (que em 2015, quando fui embora, tinha três anos) foi o mais difícil. “Vou perder a infância dele, ele vai esquecer de mim, mimimi”.
De certa forma sim, não estive perto dele todos os dias… Mas não acho que a gente se perdeu, e ele definitivamente não esqueceu de mim. Sempre me ignora quando falo com a família por Facetime, mas curtimos muito o rolê quando vou visitar, que é pelo menos uma vez por ano.
Colocar a vida inteira em duas malas de 23 quilos, por sua vez, é libertador: você realmente precisa de três jaquetas jeans? Quais livros da sua coleção realmente tem que levar? Minimalismo forçado. Tem muita gente que decide levar uma vida mais minimalista, sem tanto acúmulo, depois de viver mudanças: o que você realmente precisa cabe em duas malas de 23 quilos? Cabe em uma? Cabe em uma mochila? #PenseNisso
Mas… Precisa de visto?
O México é um país que permite a estrangeiros entrar como turista, sem visto, e ficar lá até 180 dias. Como eu não teria vínculo laboral no país, já que iria trabalhar para uma empresa brasileira, decidi me aventurar como turista e investigar as opções chegando.
No primeiro ano, viajei muito a trabalho – isso significava que, cada vez que eu saía e entrava de novo, podia ficar outros 6 meses sem visto. Juntando essa facilidade com a procrastinação, adivinhem o que eu fiz? Sim, fui turista no México por alguns anos!
Obviamente, ser realmente residente no país onde você reside tem suas vantagens, desde conseguir um cartão de crédito a poder alugar um apartamento no seu nome. Então, criei vergonha na cara e fui atrás da minha residência mexicana.
Como obter residência no México
O instituto de imigração do México só oferece a residência com permissão de trabalho se você for contratado por alguma empresa mexicana, que seja devidamente registrada no instituto e possa contratar estrangeiros. Então, procurei uma empresa mexicana pra me acolher!
Além disso, fiz o caminho mais longo e caro. Quando é a primeira vez que se está solicitando a residência, você deve iniciar o trâmite no consulado mexicano do seu país, apresentando a carta convite da empresa que quer te contratar lá no México. Então, tive que viajar pro Brasil pra poder iniciar o trâmite, que não é nada difícil: tendo a carta, pela internet mesmo você se inscreve, marca a entrevista, leva todos os documentos necessários no dia, responde umas perguntas e voilá: pode ir pro México e dar seguimento ao processo lá.
Ser estrangeiro no México
Mudar pra outro país significa que você sempre vai ser gringo. Seu lar passa a ser aquele país, você adota uma nova cultura pra chamar de sua, se relaciona em outro idioma, o arroz e feijão é substituído por outra comida. É muito louco pensar nisso, mas é muito legal ao mesmo tempo!
Pra mim, as principais vantagens de ser eternamente gringa são:
- Você nunca deixa de ser “interessante” e sempre tem assunto com qualquer um. Claro que às vezes cansa também de responder sempre às mesmas (“mas por quê México”? rs)
- A sua capacidade de adaptação se multiplica por mil: depois de tanto perrengue tendo que se acostumar a tanta coisa nova, as mudanças se tornam mais fáceis. Há pouco tempo, em um processo de recrutamento, escolhi uma venezuelana pra seguinte etapa justamente porque pensei “se ela saiu do país dela pra vir morar aqui, isso já diz muito sobre a suas qualidades”.
- Se for um país que não fale português, a fluência em outro idioma. Por mais que você tenha estudado seis anos na Aliança Francesa, tem coisa que você só vai sacar mesmo estando completamente imerso, e por anos, na cultura da França, Canadá, Haiti, República do Congo, etc.
- Aquisição de talentos culinários: deu saudade de comer pastel, feijoada ou coxinha? Ah, meu amigo ou minha amiga: vai ter que aprender a fazer! ¯\_(ツ)_/¯
O lado ruim de morar fora
Tem desvantagem? CLAAAARO que tem! Não é nada fácil ficar longe da família e dos amigos – e se eu resolver ter filhos? Com quem vou deixar se os avós estão a mais de 5 mil quilômetros de distância??
Sempre tem alguma burocracia pra lidar, seja pra conseguir residência ou visto; explicar que você não tem o documento oficial do país mas “esse aqui é a mesma coisa”; negociar ou pechinchar sempre é mais fácil se você for local; entre outros detalhes.
Há ainda as desvantagens do lugar que eu escolhi: a cultura mexicana é muito mais machista que a brasileira, a Cidade do México na sua maioria não tem um sistema de lixo eficiente, os motoristas consideram que o semáforo amarelo significa “acelera” e tals.
Costuma ser muito mais fácil focar nas coisas negativas. Tenho um costume que já até virou tradição com o meu namorado, que também é estrangeiro: quando um reclama de alguma coisa do país ou da cidade, o outro responde “sabe como se soluciona isso? Volta pro seu país!”.
Isso faz a gente lembrar imediatamente que escolhemos essa vida por inúmeras razões, e continuamos escolhendo todo dia. Porque se não fosse legal, eu voltava pro Brasil, né? Escolhas! É uma forma de ver as coisas que acho bem bonita, recomendo aplicar pra qualquer situação!
Marina Paschoalli, quase 30, é brasileira fugitiva: adotou a terra da tequila e dos mariachis oficialmente desde 2015. Todo dia uma nova forma de comer tortilla, e nos tempos livres coordena operações na GMD, agência de marketing digital meio brasileira, meio mexicana, 100% genial.