Olha eu aqui mais uma vez para o Post Anual do Blog.
É que, de vez em quando, me bate aquela coceira. E tem me batido ultimamente.
É uma coceira meio difícil de coçar. Como encaixar mais um hobby entre tantas outras responsabilidades? Como escrever um post em um blog, que ninguém mais lê (se bem que isso nem é um problema), com mais de 40 horas de trabalho na semana, uma mudança de carreira ainda no início, ligar para a mãe, sair com o namorado, ler o livro do mês – que já acumulou com o do mês passado, então agora são dois livros no mês – , malhar, planejar viagem, ver as amigas, tocar violão, e ainda não basta apenas escrever, tem que criar conteúdo?
Não tem lá muito espaço para aliviar uma coceirinha.
Mas esta coceira aqui é uma que me agrada demais. Ela junta muitas coisas que eu gosto muito. É viajar, escrever, contar para as pessoas, bater papo. Este blog me trouxe tanta coisa boa que eu deveria cuidar melhor dele. Nunca me deu dinheiro diretamente, mas, desde que parei de medir a vida em cifras (e fiquei muito mais pobre mas muito mais feliz; isso é assunto para outro dia), isso cai lá no fim da lista – depois de “mas ninguém mais lê blog”.
Imagina a justificativa para tudo que a gente fizer na vida ser “dá dinheiro ou não?”
A gente só vai trabalhar. Verdade seja dita, eu sinto que a gente meio que só trabalha. E é aí que essa coceira fica irresistível. É um prazer quase secreto fazer algo que não te rende nenhum dinheiro, mas que ocupa suas horas e sua energia de uma forma tão intensa. Para quê fazer isso?
Porque é preciso fazer as coisas por motivo nenhum. Ser ruim nos nossos hobbies. Ter o comprometimento íntimo de uma atividade que só você entende – que só você sabe que você faz. “Ninguém mais lê blog“, afinal.
Nos últimos anos, viajei para lugares que, antes, sequer sabia apontar onde ficavam no mapa. Não contei nada aqui; o que contei foi tanto tempo depois que as memórias já estavam turvas, desimportantes.
Este é um diário de viagem que eu criei para guardar minhas próprias lembranças, e elas viraram megabytes e gigabytes de fotos que eu vejo bem de vez em quando e me fazem pagar um par de libras todos os meses para o Google mantê-las arquivadas.
(Preciso comprar um HD externo, inclusive, porque um par de libras não é lá muito incentivo para fazer nada e vai que o Google descobre isso.)
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Quando criei o blog, parte essencial de uma mudança de vida que aconteceu há mais anos do que eu imagino (acho que são uns sete??), me lembro de ter escrito no Sobre Mim que contaria sobre a minha vida na Itália fazendo o processo da cidadania italiana e, depois, onde a vida e o dinheiro me permitissem ir – algo assim.
Há pouco mais de quatro anos, moro na Inglaterra. A ideia inicial era ser nômade digital, mas logo eu descobri que gosto demais de ter um endereço fixo, uma casa só minha. Viajar é bom; voltar para casa é melhor.
Ano passado, meio sem querer, minhas viagens foram diferentes. Em vez de acumular milhas e riscar países, eu percebi que gosto mais de passar tempo, viver.
Essas viagens vieram com uma sensação de não estar sozinha. Foram viagens com antigas amigas, para visitar novas amigas, para ver parentes, para encontrar pessoas que vejo tão pouco pessoalmente mas nutro um afeto gigantesco… Saber que o mundo é tão grande e tem tanto espaço para nós, com tanta gente disposta a ceder tempo, teto, conversa, pelo simples fato de que a outra pessoa é você, é de uma generosidade que me leva às lágrimas. Foi incrível estar em tantos países – viajei mais do que nunca. Mas poderia ter sido qualquer lugar com as mesmas pessoas.
Enfim. Vivi tantos dias lindos em CEPs diferentes em 2024, e não contei nenhum. Ninguém mais lê blog, eu sei, mas, ao abrir essa URL que eu até hoje acho tão bem pensada, pareceu que eles não mereciam ser contados, como se fossem menos importantes.
Eu não quero dar dicas de viagem. Não quero te dizer o que fazer em X dias em tal lugar, quanto custa o ingresso pra tal atração e se vale a pena ir… Apesar de que essas coisas provavelmente vão aparecer de vez em quando.
Tem gente que ganha uma fortuna fazendo isso na internet. Mas ninguém mais lê blog, e eu não quero fazer vídeo para o TikTok ou busca de palavras-chave me dizendo o que escrever.
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Uma das maiores amigas que eu tenho, a Gi Fialho, me encontrou por causa do blog. No ano passado, eu fiquei uma semana na casa dela em Cesena, na Itália, e fui com ela na sua primeira aula de teatro.
“Eu achei que tava grávida”, ela me contou, “e chorei pensando que eu nunca tinha feito tanta coisa… Tipo aula de teatro.” Fomos juntas.
Eu não achei que estava grávida, mas vou fazer 35 anos em 2025 e percebi que também tenho uma lista de coisas que quero fazer antes de não poder mais fazê-las por qualquer motivo – gravidez, doença, falta de dinheiro, tanta coisa pode acontecer…
Então, me dei a missão de, em 2025, tirar essas imagens do meu vision board e colocá-las em porta-retratos na minha casa. Muitas têm a ver com viagens, e, se tudo der certo, eu vou fazer duas grandes, daquelas que são um sonho realizado. Uma delas, longa e distante, está na minha lista há 25 anos, lá no fim, no lugar das coisas impossíveis.
Me lembrei dos países que visitei nos últimos anos, e que nunca tinha pensado em ir antes – impossíveis, dessa forma: Albânia, Croácia, Bósnia-Herzegovina… Todos viraram realidade furando a fila, tipo “não sabendo que era impossível, foi lá e fez.”
Me deu uma coceira que eu não sentia há um bom tempo. A coceira de conhecer um lugar novo e viver uma realidade totalmente diferente da minha; de me perder e chorar na rua, de comer comida cara e ruim por não saber onde ir, de pegar o ônibus para o lado errado. E de voltar para o meu canto da internet, do qual pago aluguel todos os meses porque vai que um dia eu decido voltar, contar para os meus amigos o que vivi.
Nos lemos de novo em breve.