Quando visitei Lisboa pela primeira vez, em setembro do ano passado, não sabia muito bem o que esperar – já falei aqui sobre como não sou a pessoa que melhor planeja viagens e acabo deixando tempo demais para o inesperado.
No entanto, eu esperava encontrar uma cidade muito mais antiga do que vi. Isso porque a maior parte de Lisboa foi reconstruída após o terremoto de 1755.
Dada a destruição, estima-se que tenha sido um tremor nível 9 na escala Richter, que vai até 10. Como resultado, a cidade foi destruída e cerca de 10 mil pessoas morreram, seja pela demolição dos prédios, por incêndios, ou pelo maremoto que veio em seguida na capital banhada pelo rio Tejo, atingindo em cheio a população que tentava fugir do fogo e dos escombros. O número de vítimas também é uma estimativa, e há quem diga que os mortos tenham chegado a 50 mil – ainda mais chocante quando se considera que, na época, Lisboa tinha cerca de 200 mil habitantes. O impacto dos tremores chegaram até o norte da Europa e ao Caribe.
Diante desse cenário de destruição, tem pouca coisa de antes de 1755 que ainda pode ser vista em Lisboa. Uma dessas coisas são as ruínas do Convento do Carmo, que servem como um marco dos efeitos do terremoto. Outra é a Livraria Bertrand, localizada a poucos minutos dali, no Chiado, fundada em 1732.
Livraria Bertrand: a mais antiga do mundo
Bertrand, hoje, é o nome da rede de livrarias que teve origan por ali. Ela leva o nome de Pierre Bertrand, um francês que chegou em Portugal em 1742 e se tornou sócio do fundador, Pedro Faure. Nessa época, a livraria ocupava outro endereço, também no Chiado, mas o edifício original não sobreviveu ao terremoto e, após ser transferida para um local próximo à Capela de Nossa Senhora das Necessidades por alguns anos, a livraria se mudou para o atual endereço, na Rua Garrett, em 1773.
Portanto, mesmo que o prédio não seja o original, a Livraria Bertrand em Lisboa nunca parou de funcionar desde sua abertura. Por isso, é considerada a livraria mais antiga do mundo.
Sua presença no bairro do Chiado faz com que ela seja parte de uma região muito emblemática para a cultura portuguesa. Por ali viviam grandes personagens portugueses, incluindo escritores como Eça de Queirós e Fernando Pessoa – inclusive, ele está imortalizado com uma estátua bem perto da livraria, em frente ao Café A Brasileira, ponto de encontro dos intelectuais de sua época.
O bairro também conta com inúmeros teatros, bares e outros cafés e, apesar de ter sido “abandonado” décadas atrás, foi revitalizado nos anos 80 após um grande incêndio. Hoje, é novamente um importante ponto de Lisboa.
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Por dentro da Livraria Bertrand em Lisboa
Por ser a livraria mais antiga do mundo, você talvez imagine que a Livraria Bertrand no Chiado seja, digamos, de um certo jeito. Na minha cabeça, ela seria um lugar cheio de coisas antigas, meio que uma mistura de livraria e antiquário. Exemplares antigos, quinquilharias de todo tipo, talvez um gato dormingo no alto de uma estante…
Mas, apesar dos séculos de história, a Livraria Bertrand é muito mais moderna. Aliás, ela é exatamente isso.
Os detalhes antigos ficam por conta do endereço e alguns aspectos da arquitetura, como as estantes de madeira e o café dos fundos. Há seções dedicadas a autores portugueses, inclusive uma a Eça de Queirós e outra a José Saramago, mas há também livros de outros países (como a autobiografia da Rita Lee!) e em outros idiomas.
Em outras palavras, é uma livraria que, sabendo de seus visitantes internacionais, tenta dar a eles algo para ler, enquanto garante espaço para os seus.
Alternativa de livraria antiga em Lisboa
Confesso que não era exatamente isso que procurávamos quanto separamos um tempo da viagem para conhecer a Livraria Bertrand, mas, do outro lado da rua, encontramos algo mais próximo do que queríamos conhecer.
A Livraria Sá da Costa não é tão antiga quando a Bertrand, mas também é centenária: sua fundação foi em 1913, e ela chegou ao Chiado em 1943.
Lá, é possível passar um bom tempo andando entre livros sobre tudo, de tudo quanto é ano, não necessariamente armazenado no lugar certo. Mas essa é a graça, na minha opinião: andar pelos corredores e ver o que te chama a atenção!
São milhares de títulos espalhados do chão até o teto e por várias salas, vindos de todo lugar do mundo – achamos até um Guia 4 Rodas 2006 entre os do Brasil. Além dos livros, que fazem ótimos souvenirs, ela também tem mapas, fotos, quadros, fitas VHS, azulejos centenários… A sensação é mais de estar andando por uma mistura de antiquário e sebo do que simplesmente uma livraria.
E é justamente por essa personalidade toda que eu diria que, se você só tiver tempo para visitar uma delas, as chances de encontrar algo surpreendente na Sá da Costa são maiores.
Livraria mais antiga do mundo: onde fica?
A Livraria Bertrand fica na Rua Garrett 73-75, no bairro do Chiado, em Lisboa. A Sá da Costa fica na Rua Garrett, 100.