Lembram quando, no outro post sobre permesso di soggiorno, eu falei que cada lugar meio que faz como acha melhor?
Pois bem, a novela do meu permesso ainda teve dois capítulos depois disso. E ainda não acabou!
Achei um pouco estranho que, na minha primeira ida à questura, não tivessem feito minhas digitais, apenas pegado a foto. Perguntei se estava tudo certo e confirmaram: tutto a posto! E me deram um prazo de mais ou menos um mês para o permesso chegar na minha casa.
Uns 10 dias depois disso, recebi uma ligação da questura me convocando para ir lá novamente para deixar minhas impressões digitais. Precisei levar o passaporte e uma foto, esperar na salinha da polícia científica e fazer o escaneamento. Foi relativamente tranquilo.
Tutto a posto? Tutto a posto! Agora, é só esperar o permesso chegar em mais ou menos um mês. De novo.
Mas não é só isso!
A terceira parte começou igual a segunda: uma ligação que me mandava ir à questura na próxima semana para assinar alguma coisa para o permesso di soggiorno. Não entendi muito bem o que era, mas fui na semana seguinte, como combinado com a pessoa que me ligou.
Foi quando fui formalmente apresentada à bagunça que são a burocracia e o funcionalismo público italiano.
Chegando à questura, ninguém sabia do que se tratava. Me perguntaram quem tinha me ligado; eu não tinha o nome da pessoa, só sabia que era uma mulher. Assim, me mandaram em outro andar, porque lá trabalha uma mulher e, se alguma mulher me ligou, só poderia ser ela.
Mas ela também não sabia do que se tratava, porque não foi ela quem me ligou. Um dos oficiais ali me disse que achava que eu tinha que ir na prefettura, na capital da província. “Mas eles falaram da questura deste comune na ligação”, insisti. O comune, no caso, é o que eu moro.
Conferimos o número que me ligou: era da prefettura da capital da província. Talvez eu devesse ter feito isso antes, mas não esperava ter que investigar quem me ligou.
Explicação rápida para quem não é familiarizado com os termos: todo comune faz parte de uma província. A cidade que é capital da província leva o mesmo nome que ela e também é um comune. É lá que fica a prefettura, um órgão governamental que atende toda a província. Nos processos de cidadania, ele é conhecido por ser onde são feitos os apostilamentos de documentos da Itália que precisam ser traduzidos no Brasil.
Por exemplo: o comune de Altavilla Vicentina, onde meu bisavô nasceu, fica na província de Vicenza. A certidão de nascimento dele foi buscada no comune de Altavilla Vicentina e apostilada na prefettura de Vicenza.
Tentei ligar lá algumas vezes em seguida para confirmar, mas ninguém atendeu. Confesso que acabei esquecendo até o dia seguinte quando, já esperando o trem, lembrei que não sabia exatamente onde ir quando chegasse à cidade.
Depois de alguma insistência, alguém atendeu. Perguntei o horário de funcionamento da prefettura e fui informada de que, naquele dia, ela não abria para atendimento ao público.
E eu com o bilhete do trem na mão.
Bom, pelo menos vamos tentar descobrir o que eu preciso fazer lá, certo? Expliquei que alguém tinha me ligado, me convocando para assinar um termo do meu permesso di soggiorno. Fui transferida para outro setor, depois para outro, e tive que explicar tudo umas três vezes.
Por fim, me passaram outro número. “Liga lá que eles tiram todas as suas dúvidas sobre o permesso”. Bom, eu não tinha nenhuma dúvida, mas vamos ver que número é esse… E o Google revelou que era da questura da capital da província! E ela estava aberta ao público naquele dia.
Corri para pegar o trem e cheguei por volta das 11h30 para dar de cara com um cartaz de “atendimento só com agendamento”. Ah pronto!
Na ligação, não houve nenhum agendamento, só um “venha na quarta-feira de manhã”. Era quarta-feira e era manhã; logo, errada eu não estava.
Expliquei tudo de novo, primeiro na portaria para que liberassem minha entrada, depois para o homem no guichê de atendimento, e ele me pediu para aguardar um pouco. Um moço sentado ao meu lado me perguntou qual era meu horário e, pela novamente, expliquei minha situação; ele revelou que o dele era há uma hora e ainda estava esperando.
Ou seja, eu definitivamente não seria atendida tão cedo.
Como esperar é muito chato, vou pular as duas horas e meia que fiquei fazendo isso. Quando finalmente fui chamada para ser atendida, me perguntaram em qual idioma queria o acordo de integração (o o quê?!) e me pediram para aguardar mais um pouco.
Então, eu era praticamente a única pessoa que restou na sala quando fui, enfim, assinar o tal acordo. O atendente me entregou uma papelada e explicou que eu precisaria voltar à cidade em setembro – daqui a seis meses – para assistir a 10 horas de aula sobre a Constituição italiana e outras coisas que não se importou em explicar.
Basicamente, ao assinar o tal acordo de integração você se compromete em participar da vida na Itália do jeito certo: precisa aprender italiano, conhecer o sistema de governo, entender impostos, leis, direitos e deveres. Pelo que entendi, é um curso de educação cívica para “promover a coexistência de cidadãos italianos e estrangeiros residindo legalmente no país”, como se lê na via que ficou comigo.
E agora, tutto a posto?
Segundo o oficial, sim, tutto a posto. Mas, como eu já ouvi isso duas vezes antes e não estava tutto a posto, só acreditarei quando tiver meu permesso em mãos – novamente, segundo ele, daqui a mais ou menos um mês.
Espero ter a cidadania italiana em mãos antes…. :/
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