“Olha lá a fila de gente pra fazer foto pro Instagram”
“Não faz UMA foto sem aparecer, como se as pessoas quisessem ver sua cara em vez do monumento atrás”
“Se não existisse Instagram, este lugar não estaria assim”
Qual das frases acima você já falou durante uma viagem? Pode ser mais de uma. Eu mesma já falei as três. Já fui o alvo das três, tenho certeza. E também já deixei de fazer fotos com medo delas – sendo que as pessoas que as falariam provavelmente também estariam ali com o mesmo motivo.
Mas, afinal, qual é o problema de tirar fotos para postar no Instagram?
Até parece que antes do Instagram, do Fotolog e até do Orkut as pessoas não tiravam fotos, como se a ideia de registrar os momentos importantes da sua vida tivesse nascido com a internet.
Se você se lembra de algo antes dos anos 2000, deve lembrar de voltar de viagem com vários rolos de filme para serem revelados, colocados em álbuns (com algumas fotos escondidas atrás das outras, porque a gente nunca teve orgulho de todas) e mostrados para a família e os amigos. Eles muitas vezes nem faziam questão de ver, mas cediam esse tempo para ouvir as histórias, fazer perguntas e dar risada junto. As melhores fotos conseguiam o lugar de honra em porta-retratos, onde eram vistas por absolutamente todas as visitas da casa.
Hoje, voltamos não com rolos, mas com centenas de fotos nos nossos celulares e câmeras. Elas não precisam de revelação, mas talvez uma passadinha no VSCO ou no Lightroom. Depois, são postadas na internet para que nossos amigos, familiares e outras pessoas que se importam o suficiente com a gente possam ver e comentar; mesmo sem fazer muita questão, pelo menos um <3 eles deixam.
Falando nisso, me siga no Instagram!
Será que as redes sociais realmente mudaram nosso comportamento em relação às fotos que fazemos nas viagens?
Falando de mim mesma: sim, muito.
E não, nem um pouco.
Hoje, penso muito mais em poses e enquadramentos; realmente gasto algum tempo vendo o que a foto mostra, pensando no que posso escrever como legenda, de que forma uma complementará a outra e o que as pessoas irão gostar de ver e de ler. Até coisas técnicas mudaram, como a troca do 4:3 pelo 9:16 para que as fotos caibam melhor nos Stories, o cuidado em limpar a lente antes de fotografar e técnicas avançadas para esconder o pau de selfie.
Sabe qual o resultado disso? Minhas fotos são muito melhores hoje do que eram há alguns anos. Mas continuo querendo mostrá-las para meus amigos e quem mais quiser ver, da mesma forma quando selecionei as minhas fotos preferidas no álbum da excursão ao Hopi Hari antes de levá-lo à escola.
O lado bom
Acho que algo que realmente mudou nosso comportamento com fotos em geral foi não termos mais uma quantidade limitada. Se podemos errar sem gastar filme (e grana) à toa, nos permitimos tentar várias possibilidades até chegar na foto perfeita. Experimentamos enquadramentos e poses menos óbvias e aprendemos muita coisa sozinhos, com base em princípios básicos de fotografia, referências que nos inspiram e tutoriais que são muito mais acessíveis.
Nos tornamos mais criativos: uma foto abraçada com seus amigos na frente de um monumento é legal, mas uma foto espontânea no mesmo lugar, tirada com um ângulo menos óbvio, é muito mais. É possível tirar dezenas de fotos e escolher a melhor para compartilhar, em vez de confiar em um único clique que, para ter a garantia de ser útil, também ficava na opção mais segura de pose e enquadramento.
Para quem viaja sozinho, então, viver no futuro é melhor ainda. Temos tripés de todo tipo, disparadores por controle remoto, temporizadores… Só é preciso ter paciência para montar a foto perfeita. Com tantas referências, conseguimos olhar para um cenário, pensar em como a foto poderia ser e tentar transformá-la em realidade. E, tendo o clique perfeito, compartilhá-lo para que todo mundo possa ver também.
O lado ruim
A vontade de registrar e compartilhar os momentos bons não foi criada com a internet, mas é muito mais facilmente saciada com ela. As redes sociais nos mantém com mãos ocupadas e cérebros continuamente sedentos; elas não foram feitas para isso, mas foram aperfeiçoadas com esse objetivo.
O ser humano é sociável por natureza e ter interações sociais positivas lhe traz felicidade. Saciando essa necessidade com likes, comentários e seguidores, temos uma fonte praticamente inesgotável de dopamina a poucos toques de distância. O Instagram não criou uma nova forma de relacionamento, mas acelerou o intervalo entre a demanda e a satisfação.
Se todo mundo está no Instagram, todo mundo sofre do mesmo mal e toma o mesmo remédio, continuando no mesmo ciclo: postar a foto, receber os likes e comentários, ficar contente. Postar outra foto quando eles rarearem, e por aí vai.
Não pretendo, neste texto, me alongar sobre os efeitos disso na nossa saúde psicológica, mas tem um monte de estudos que apontam que as redes sociais nos deixam mais ansiosos e deprimidos – este aqui é um bom. Isso é realmente um problema e eu também tento controlá-lo apagando apps de redes sociais, desativando todas as notificações e passando mais tempo offline.
Sabe o que não é, isoladamente, um problema? Acordar às 5 da manhã para fazer fotos lindas em um monumento vazio e mostrá-las para as pessoas.
Não acho justo colocar isso na caixinha de “desespero por atenção” ou “coisas loucas que fiz pelo Instagram”. Primeiro, porque cada um faz o que quiser com o seu tempo. Segundo, porque não tem nada de errado em querer compartilhar suas melhores fotos. E, terceiro, porque todo mundo edita suas próprias experiências para que elas sejam lembradas e contadas como momentos felizes; ou antes do Instagram as pessoas tiravam foto de momentos ruins para por em porta-retratos?
Para mim, o problema de quem tira foto só para postar no Instagram é quem acha que isso é um problema.
Continue se esforçando para tirar fotos lindas, criativas e surpreendentes e compartilhá-las nas redes sociais. Todo mundo quer ver e interagir com coisas lindas. E, se usar #beijoeciao, eu agradeço mais ainda porque garante que eu também as verei 😉