Aqui no blog, falo sobre viagens e sobre morar fora. Mas, nas últimas semanas tem sido – e continuará sendo, nas próximas – impossível falar desses dois assuntos sem citar a pandemia. Por isso, criei esse novo “quadro” aqui no blog para contar histórias de viagens interrompidas, destinos alterados e planos que tiveram que mudar literalmente de um dia para o outro. E, também, para mostrar que, apesar de ser um saco passar por isso, a gente se adapta mais facilmente do que imaginava. Espero que goste!
“Escapei de Milão e acabei presa na quarentena da França”, me disse Suzana por uma mensagem no Instagram. Achei que ela tinha dado azar. Mas, quando me contou que não morava na Itália e sim em Wuhan, na China, onde surgiram os primeiros casos do novo coronavírus em dezembro de 2019, percebi que Suzana estava vivendo esse momento histórico de uma forma muito mais intensa e singular do que eu tinha entendido.
Suzana se mudou para a China há seis anos. Na época, ela tinha 24 anos e foi ao país para aprender chinês, com uma bolsa do governo do país. Foi em Wuhan que ela conheceu seu namorado, um rapaz francês com quem está até hoje, onde concluiu seu mestrado e atualmente faz doutorado em Direito Ambiental Internacional.
Pouco antes do Natal de 2019, Suzana tirou um período de férias: a intenção era passar três meses com o namorado, que agora mora em Milão, e fazer uma road trip pela Itália. Em fevereiro, voltaria para a China para terminar seu doutorado.
Mas, no último dia do ano, aconteceu algo que mudou seus planos repentinamente. Foi nessa data que Wuhan notificou a OMS sobre 27 casos de um tipo de pneumonia causados por um vírus novo, que ainda não tinha sido registrado em humanos. Um mês depois, no dia 30 de janeiro de 2020, a epidemia virou uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional. No dia 11 de março, foi declarada a pandemia.
A esta altura, como você provavelmente se lembra, a Itália já era um novo foco das atenções, com casos de COVID-19 aumentando rápido e medidas sendo tomadas repentinamente para frear o avanço do vírus. De cabeça, me lembro do fechamento das escolas e universidades, proibição de aglomerações e encerramento de atividades de restaurantes e bares às 18h, até a suspensão de todas as atividades comerciais consideradas não-essenciais.
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No dia 8 de março, foi anunciado o fechamento de toda a região da Lombardia, além de diversas províncias de outras regiões. Suzana estava em Cinque Terre e ouviu pelo rádio o pronunciamento. Para evitar ficarem presos em um local de onde não havia a previsão de sair tão cedo e, pior, estava se tornando um novo epicentro do vírus, o casal decidiu encurtar a viagem em um dia e ir para a cidade dele, na França. Então, voltaram às pressas para Milão, arrumaram as malas, se reuniram com outros amigos e, na mesma noite, foram para a rodoviária pegar um ônibus… Que nunca chegou.
A solução foi entrar em outro, que ia para Aosta, região da Itália na fronteira com a França e fora da Lombardia. Dali, seguiram para a Chamonix, região na fronteira com a Itália e a Suíça, onde pegaram um carro com os pais do namorado para irem até uma casa de verão da família com alguns amigos. Por fim, acabaram decidindo ficar na Bretanha, no norte da França, onde passam a quarentena na casa de um amigo com outras quatro pessoas. A caminho desse destino, ouviram mais um pronunciamento oficial no rádio: desta vez, o presidente da França anunciando a quarentena para o país todo. O lugar onde pretendiam passar uma semana virou, obrigatoriamente, onde passariam pelo menos seis.
Nesse meio-tempo, sem pode voltar para casa, Suzana estava prestes a completar três meses no espaço Schengen, o limite para um tem visto de turista, e comprou uma passagem para o Brasil, que ainda não era castigado pelo vírus. Mas o voo foi cancelado. Em meio a tantas más notícias, ela nem vê isso como algo negativo, já que seria uma viagem “perdida”: ia acabar ficando sozinha e isolada em São Paulo, sem poder ver sua família, que mora no interior, e que havia visitado há poucos meses, em agosto.
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“O futuro está muito incerto”, me lamentou por mensagem. Ainda é cedo para saber até quando o isolamento social na França continuará e, principalmente, quando poderá voltar para Wuhan: toda a sua vida está na China, e ela não pode voltar para o país tão cedo, já que o governo bloqueou a entrada de estrangeiros por tempo indeterminado – nem com a permissão de residência válida é permitido o retorno.
Por enquanto, Suzana está cumprindo a quarentena com caminhadas, yoga e meditação, além de continuar trabalhando na sua tese de doutorado e aproveitar a temporada na Bretanha para praticar francês com outro morador da casa. Para coroar essa época de adaptações e imprevistos, seu aniversário de 31 anos será na semana que vem. “É muito complicado fazer planos com tanta incerteza. Não sei como vai estar minha vida no mês que vem. O melhor é aproveitar um dia após o outro”.
Se você também tem uma história, ahm, inusitada causada pelo vírus e quer vê-la contada aqui, me mande uma mensagem!
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