Outro dia, estava dando dicas de viagem para uma amiga na Itália. Comentei sobre a vez que passei quase um mês viajando e fui para várias cidades, passando poucos dias em cada uma.
Florença é muito linda, pena que choveu e até nevou quando eu visitei.
Roma tem que ir com tempo, os passeios são demorados, em uns quatro dias você faz tudo meio correndo.
Na Toscana, eu vi cinco cidades em um dia.
No mesmo dia, eu tinha dado uma buscada nas fotos que tirei no país para escolher uma para o Instagram. Ao rever as imagens que fiz, não teve uma única cidade que eu não tenha pensado que não vi o suficiente e gostaria de ir mais uma vez.
Não sei se configura FOMO, o medo de deixar de ver ou viver coisas por não estar no lugar e na hora certos. Para mim, configura uma vontade de desacelerar o ritmo das viagens – ou, como os gringos chamam, slow travel.
O que é slow travel
Tem anos que a tendência slow tem ganhado espaço. Um exemplo bem conhecido é o slow food, que é um contraponto ao fast food e tem a proposta de mudar a relação das pessoas com comida, incentivando o uso de ingredientes frescos, a preparação passo a passo refeições e a valorização de pequenos produtores. Não à toa, o criador do movimento, Carlo Petrini, é italiano.
Transpondo essas características para o turismo, a ideia de viajar devagar é conseguir vivenciar o local em vez de apenas visitá-lo. Assim, é possível se conectar com a cultura, conhecer quem vive lá, aprender os costumes e fugir do circuito turístico tradicional.
Para o destino, o saldo do slow travel também é positivo, já que há impactos mais significativos na economia, na sociedade e até no meio ambiente. Afinal, quem passa mais tempo em um local acaba, necessariamente, levando para lá os gastos de dia a dia como aluguel e compras. Para a comunidade, é possível aproveitar a ajuda extra em trabalhos voluntários, por exemplo, além da troca cultural. E, passando mais tempo em um lugar, é possível fazer escolhas mais conscientes em relação a meios de transporte, embalagens e compras em geral.
O slow travel engloba as principais tendências atuais em turismo: segundo o relatório Travel Trends deste ano da Trekksoft, os viajantes estão em busca de – e investindo em – experiências únicas, imersão na cultura local, exploração do meio ambiente e mais conhecimento da história do lugar. É muita coisa para fazer, aprender e vivenciar em três ou quatro dias.
Como virar um viajante lento
Acho que não tem uma pessoa no mundo que, podendo escolher, passaria mais do que apenas alguns dias em um destino. Mas o slow travel exige algo que a maioria das pessoas não dispõe: tempo e dinheiro.
O primeiro porque imergir em uma cidade e uma cultura não é algo que ocorre em poucos dias, e dificilmente temos mais do que esse tempo disponível para viajar no ano.
O segundo porque fazer isso pode ser muito mais caro. E, como não estou falando de ter um visto de trabalho em todos os países do mundo, ganhar dinheiro na moeda local não costuma ser uma alternativa. Para quem pode trabalhar remotamente, esse talvez nem seja um problema, mas não é o caso da maioria das pessoas.
Outra opção é participar de programas como o Workaway ou o Worldpackers, que têm foco em viagens de longa duração, nas quais os viajantes trocam a hospedagem por algumas horas de trabalho. Tem de tudo: de passear com os cachorros ou cuidar dos filhos de alguém a ajudar numa fazenda ou a reformar casas. Mas também não é uma opção viável para todos, já que nem todo mundo tem interesse em passar os vinte dias de férias trabalhando num agriturismo no meio da Itália.
Então, como equilibrar as economias do ano todo e o tempo de folga com a vontade de conhecer os lugares? Devo mesmo lutar contra minha ansiedade – e, sinceramente, minha lógica – para me convencer que faz mais sentido passar quinze dias em Los Angeles em vez de aproveitá-los para conhecer também San Diego, Las Vegas e San Francisco?
Slow travel na prática
Não existe um jeito certo ou errado de viajar. Não há coisas que você deve ou não fazer, nem coisas que você “perde” por não ver. A gente recomenda lugares que consideramos importantes, mas a verdade é que a experiência de cada um é diferente – para tudo, não apenas para viajar.
Pessoalmente, tenho percebido que prefiro viajar menos e melhor. Não é algo que eu tenho conseguido fazer, e sei que nem sempre vou ter dinheiro ou tempo suficientes, mas eu gostaria de tentar.
Sempre caio na armadilha da ansiedade de ver todas as coisas agora, que me faz andar mais do que eu pretendia, espremer um monte de atrações em um tempo muito curto e, às vezes, acabar mais cansada e estressada do que antes de sair de férias.
Prova disso é que, como falei antes, quero voltar para todas a cidades que visitei e, quem sabe, até dar uma segunda chance a algumas coisas – lembra de como visitei a Capela Sistina do jeito errado? Pois bem; se o ingresso me dá direito a 24 horas, eu não preciso fazer isso com pressa. A mesma coisa para o Coliseu com o Palatino e o Fórum Romano; não tem como aproveitar totalmente esses passeios em apenas um dia!
Tenho achado que faz mais sentido para mim diminuir o número de destinos e alongar o tempo que passo neles. Me importo mais em voltar para casa falando das pessoas que conheci, dos lugares que descobri e das coisas cotidianas que fiz do que em listar cidades ou países que visitei – a qualidade em vez da quantidade, sabe? Tenho mais interesse em conhecer o mundo do que os pontos turísticos.
E, se isso acabar significando que eu viajei menos, é um “preço” muito pequeno a se pagar em comparação ao tanto de coisas que terei vivido nos lugares que escolhi. 😉